Como é difícil me despedir de um amigo. Está doendo agora aqui no peito… Eu só consigo, no momento, me lembrar das coisas boas. Que bom isso! Da sua gargalhada alta, do gesto de colocar a mão na cabeça para dizer uma frase que para você “é óbvia!” Do olho de cachorro, do olho embriagado.
E bem mais difícil do que brigar. É bem mais difícil do que sorrir. É bem mais difícil do que aceitar. Despedir.
Eu me lembro das havaianas coloridas que vieram numa caixa de presente com um bilhete “obrigado por colorir a minha vida”. Eu me lembro de fazer quiche e você se esforçar para comer quando nem eu mesma consegui. Me lembro das garrafas de vinho derrubadas, vodkas, madrugadas. Muitas conversas na rede, no colchão da sala. Pensamentos sobre a existência, sobre os medos, as inseguranças… e como eu chorei hahahaha! Sóbria, bêbada, feliz! E como vivenciamos as insônias, os domingos, as segundas.
Você viu meu mau humor, minha tristeza, minha falta de paciência. Você me viu gargalhar, contar piadas, contar causos, dançar na sala, dançar e nem me lembrar. Você viu meus fantasmas, meu medo, minhas companhias invisíveis ou não. Conheceu minhas amigas.
Me viu trabalhando, dormindo, vomitando, de pé quebrado, cansada, disposta. Contei segredos, apontei amores. Nem sempre fácil porque o que eu ouvia daí muitas vezes doía mais do que o que eu já sentia heheheheh, mas eu insisti!
Eu não comprei elefantes nem ganhei vestidos. Eu aluguei um apartamento e ganhei um amigo. Um amigo que me fez confidente, que me fez companheira, que me fez amiga. Que vinha conversar, que ousava me ouvir mesmo tendo opiniões em muitas vezes distintas. E às vezes até concordava, rapaz!
Eu falei pra caralho. Falei mesmo. E ouvi pra caralho, ouvi mesmo. Lembrei agora do show do Alceu Valença. Você sabe dançar? Nem eu! Dança aqui rapidinho e vamos beber!! E vamos beber. E vamos beber. E vamos falar e vamos beber. Até que eu consegui uma foto sua sorrindo no Baruca; Baruca… eu me lembro do dia com preguiça de dizer BAR URCA falei: bora pro Baruca?? E ficou. Lembro também de “vamos arrumar um passeio que não tenha cerveja e nem calor”. E de sair da Lapa quando o bar estava sendo varrido. Quanto assunto!
Mas, porém, contudo, todavia, entretanto… a convivência acaba com casamentos, o que fará com a amizade… o que fará com a amizade…. Um dia acordei falando grego e ouvindo alemão. Um dia ouvi russo e respondi em chinês. Um dia gritei árabe e ouvi um berro em uma língua que não entendi.
Um dia não falávamos mais.
E as garrafas secaram. As insônias foram sós. Os assuntos morreram no ar. Os assuntos, aliás, nem mais existiam. Tenho certeza que em 5 minutos de conversa português com português nos reconheceríamos imediatamente. Mas receio não seja mais possível. Não agora.
Sinto saudades e aceito. Sinto tristeza e aceito. Sinto saudades.
Saldo geral: positivo.
Obrigada irmão, amo você.
Desculpa irmão, eu sou assim e assado.
Eu aceito minhas limitações, as suas e aceito nossa despedida.
Obrigada com a alma!
18 de maio de 2010